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Data & Hora

  • 9 janeiro a 28 fevereiro 2014

Local

  • Na Biblioteca Municipal e nos Claustros dos Paços do Concelho, Cantanhede
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Descrição

Álvaro Cunhal – Vida, pensamento e luta: exemplo que se projecta na actualidade e no futuro” é o título da exposição que está patente ao público na Biblioteca Municipal de Cantanhede, até 28 de Fevereiro. No total, são 15 painéis de grandes dimensões constituídos por textos, imagens, em composições que evidenciam aspetos relevantes do percurso de vida do líder histórico do Partido Comunista Português, além de alguns documentos.
Da responsabilidade da Comissão das Comemorações do Centenário do Nascimento de Álvaro Cunhal, a exposição faz a síntese dos diferentes níveis de intervenção cívica, cultural e política desta figura multifacetada que, conforme pode ler-se num trecho de um dos painéis, “é, em Portugal, no século XX e na passagem para o século XXI, a personalidade que mais se destaca na luta pelos valores da emancipação social e humana, com forte projeção no plano mundial”. Outra passagem refere “uma importante intervenção no plano intelectual, associada ao combate à repressão, à censura, ao obscurantismo e, ao longo da sua vida, manteve uma reflexão continuada sobre arte e sobre estática e uma actividade criadora no campo do desenho, pintura e da ficção literária”.

O talento de Álvaro Cunhal nesta vertente pode de resto ser apreciado nos claustros dos Paços do Concelho de Cantanhede, onde está patente ao público, também até 28 de fevereiro, uma mostra de desenhos dos períodos que o político passou na prisão. entre as quais a de Peniche, considerada na altura a de mais alta segurança do país. No cárcere, dedicou parte do seu tempo a escrever e a desenhar, até se evadir em 3 de janeiro de 1960, juntamente com alguns dos seus camaradas, fuga que a história regista como um importante acontecimento significativo da luta contra o regime do Estado Novo.

Os "Desenhos da Prisão”, como ficaram conhecidos, foram reunidos pelo PCP e publicados num álbum, em 1975, pela Editorial Avante!. Trata-se de trabalhos executados a lápis sobre papel, entre 1951 e 1959, na Penitenciária de Lisboa, onde passou oito anos isolado numa cela, e no Forte de Peniche.

No cárcere, Álvaro Cunhal começou por não dispor de qualquer material para escrever ou desenhar, mas em 1951 passou a ser autorizado a receber lápis e papel em folhas numeradas e rubricadas pelo chefe dos guardas prisionais da Penitenciária de Lisboa, -  Lino -, cuja assinatura aparece em alguns desenhos de Álvaro Cunhal.
Desconhece-se o paradeiro de muitos dos desenhos que saíram da prisão naquele período, pois eram vendidos para obter fundos para o PCP; mas outros foram recuperados, nomeadamente os que foram enviados para a família e os que os soldados que ocuparam as fortalezas no 25 de Abril encontraram.
São alguns desses trabalhos artísticos que podem ser vistos nos Paços do Concelho de Cantanhede, representações que evidenciam uma estética neorrealista e cuja temática central é sempre o quotidiano do povo em diferentes registos.

A veia artística e a dimensão intelectual de Álvaro Cunhal são notórias no campo da literatura, nomeadamente com o pseudónimo de «Manuel Tiago», com que assinou os romances e contos «Até Amanhã, Camaradas», «Cinco Dias; Cinco Noites», «A Estrela de Seis Pontas», «A Casa de Eulália», «Fronteiras», «Lutas e Vidas», entre outros; na tradução de «Rei Lear», de Shakespeare, e ainda no plano da reflexão teórica sobre a estética e a criação cultural, com «A Arte, o Artista e a Sociedade».


Notas biográficas
Álvaro Cunhal nasceu em Coimbra, no dia 10 de novembro de 1913 mas passou parte da infância em Seia. Em Lisboa, para onde a família entretanto se mudou, frequentou o Liceu Pedro Nunes e o Liceu Camões. Concluídos os estudos liceais, ingressou na Faculdade de Direito de Lisboa, onde iniciou a sua atividade revolucionária. Participou no movimento associativo estudantil, tendo sido eleito em 1934 como o representante dos estudantes no Senado Universitário. Foi militante da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (FJCP) sendo eleito seu secretário-geral em 1935. Membro do Partido Comunista Português desde 1931, a partir de 1935 passou a integrar o quadro de militantes clandestinos.

Preso em 1937 e em 1940 e submetido a torturas, Álvaro Cunhal voltou imediatamente à luta assim que libertado, após meses na prisão. Participou na reorganização do PCP em 1940 e 1941 e foi membro do Secretariado, de 1942 a 1949, período durante o qual deu uma contribuição decisiva na atividade e definição da orientação e identidade do Partido que fez do PCP, um partido profundamente enraizado na classe operária e nos trabalhadores, com forte influência na intelectualidade e na juventude.

Preso de novo em 1949, Álvaro Cunhal passou toda a década de 50 nas prisões fascistas. Levado a julgamento, fez no tribunal uma contundente acusação à ditadura fascista e a defesa da política do Partido Comunista Português. Condenado, permaneceu 11 anos na cadeia, dos quais cerca de 8, em completo isolamento. Transferido da Penitenciária de Lisboa para a Prisão-Fortaleza de Peniche, evadiu-se no dia 3 de janeiro de 1960, com um grupo de outros destacados militantes comunistas.

O período desde o início dos anos 60 até à Revolução de Abril de 1974 foi extraordinariamente intenso para Álvaro Cunhal: integrou de novo o Secretariado do Comité Central e foi eleito secretário-geral do PCP, em março de 1961. Interveio decididamente para a correção do desvio de direita e para o combate ao oportunismo de direita e as tendências sectárias e esquerdistas do radicalismo pequeno-burguês. Deu uma contribuição decisiva na análise da situação nacional, na caraterização do regime fascista, no traçar da orientação, na definição das tarefas e na direção da ação política do partido, criando condições para a Revolução de Abril e influenciando o seu desenvolvimento.

Após a queda da ditadura fascista, em 25 de Abril de 1974, depois de quase quarenta anos de luta na clandestinidade ou na prisão, pôde desenvolver a ação política nas condições de liberdade que a Revolução de Abril proporcionou. Foi Ministro sem Pasta nos primeiros quatro Governos Provisórios e eleito deputado à Assembleia Constituinte, em 1975 e à Assembleia da República, nas eleições realizadas entre 1975 e 1987. Álvaro Cunhal foi ainda membro do Conselho de Estado, de 1982 a 1992. A sua intervenção na fase do desenvolvimento do processo revolucionário e, posteriormente, na defesa das conquistas da Revolução atingidas pelo processo contra-revolucionário, foi profundamente marcada pela avaliação e o estímulo ao papel da luta da classe operária, dos trabalhadores, das massas populares.

No XIV Congresso do PCP, em 1992, no quadro de renovação e nova estrutura de direção deixou de ser secretário-geral e foi eleito, pelo Comité Central, Presidente do Conselho Nacional do PCP. Em dezembro de 1996, no XV Congresso do PCP, extinto o Conselho Nacional, manteve-se membro do Comité Central do PCP.

Álvaro Cunhal continuou a ter, até ao final da sua vida, uma intervenção ativa na política, nas atividades cultural e artística e na afirmação confiante do Projeto Comunista.

Álvaro Cunhal morreu no dia 13 de junho de 2005, aos 92 anos. O seu funeral realizou-se no dia 15 de junho e nele participaram centenas de milhar de pessoas, que prestaram a esta figura uma justa e extraordinária homenagem pelo exemplo de vida, marcado pela determinação, empenho e confiança da luta pela causa que abraçou.

Autor de vasta obra publicada, no plano político e ideológico, de que são exemplos trabalhos como «As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média», «Contribuição para o Estudo da Questão Agrária», «Rumo à Vitória», «A Revolução Portuguesa – O Passado e o Futuro», «O Partido com Paredes de Vidro», «A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril (A contra-revolução  confessa-se)», «A Questão do Estado, Questão Central de Cada Revolução», «O Radicalismo Peque


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