Escritor brasileiro Carlos Rangel vence prémio Literário Carlos de Oliveira

O romance Crime e Revolução, do historiador, escritor e poeta brasileiro Carlos Roberto da Rosa Rangel, foi o vencedor do III Prémio Literário Carlos de Oliveira. A decisão do júri, tomada por unanimidade, resultou da reunião realizada em 4 de abril, para deliberar sobre a análise das 74 obras submetidas a concurso.

A ata elaborada para o efeito refere que Crime e Revolução “se distingue pela capacidade de evocação de um período histórico turbulento e controverso da história brasileira do século XX, evidenciando o autor um notável domínio da linguagem e da técnica narrativa. A ação decorre principalmente numa cidade situada na linha de fronteira entre o Brasil e o Uruguai, onde o chefe da polícia reprime com grande violência os opositores políticos” [do regime do Estado Novo brasileiro]. Segundo os fundamentos da atribuição do prémio a Carlos Roberto da Rosa Rangel, que concorreu com o pseudónimo de Federico, “o retrato da época, muito bem conseguido, é um dos maiores triunfos da obra”. Fizeram parte do júri o vereador do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Cantanhede, Pedro Cardoso, o professor universitário Osvaldo Silvestre, em representação da família de Carlos de Oliveira, o professor universitário António Apolinário Lourenço, indicado pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Arsénio Mota, personalidade do meio literário e vencedor da primeira edição do prémio, e o também professor universitário António Pedro Pita, representante da Associação Portuguesa de Escritores.

Além do prémio atribuído a Crime e Revolução, foram distinguidos com menções honrosas ”Por Quem Choram as Pedras”, de João Paulo Medina da Silva (Portugal), sob o pseudónimo Clarinda do Encanto, e “A Montanha”, de Carlos Alberto Bernardo Machado (Portugal), que concorreu com o pseudónimo Maria Beatriz. Na ata da deliberação consta a manifestação de regozijo do júri “pelo elevado número de obras a concurso”, designadamente 74 originais, “pela qualidade das mesmas e ainda pelo facto de esta edição ter reforçado a afirmação internacional do concurso literário”.

Nos termos do regulamento, o Prémio Literário Carlos de Oliveira será entregue ao escritor vencedor no dia 25 de julho, no decurso da cerimónia solene das Comemorações do Feriado Municipal de Cantanhede.

De periodicidade bienal, o certame é promovido pelo Município de Cantanhede para estimular a criação literária do valioso legado deixados às letras e à cultura portuguesas por Carlos de Oliveira, um dos mais proeminentes escritores portugueses da segunda metade do século XX, não apenas por se tratar de uma personalidade com raízes no concelho, mas também como reconhecimento de que a sua narrativa poética e ficcional possui uma dimensão estética e um valor comunicativo que contribui para projetar a essência da identidade sociocultural do território.

À semelhança das anteriores edições, o vencedor recebe uma verba pecuniária de 5.000 euros, integralmente suportada pela autarquia, que assegurará também a publicação da obra e os custos inerentes. O concurso foi aberto à participação de autores de qualquer dos Países de Língua Oficial Portuguesa, que podiam concorrer com apenas uma obra, inédita, em prosa narrativa (conto ou romance).

Na edição anterior, em 2009, concorreram 67 obras, tendo vencido “O Novíssimo Testamento”, do cabo-verdiano Mário Lúcio Sousa, entretanto editado pela D. Quixote, do grupo editorial LEYA. Escritor, músico e advogado, Mário Lúcio Sousa é atualmente ministro da cultura de Cabo Verde, na sequência da sua ação como ativista cultural amplamente reconhecido. Nesse ano, foram ainda distinguidas com menções honrosas “Rendição e Trevas”, de Nuno de Figueiredo, de Coimbra, e “Ao Compasso da Noite”, de Ricardo Augusto Sanguinho de Jesus, de Lisboa.

Já quanto à primeira edição, foi vencedor o inédito “Quase Tudo Nada”, de Arsénio Mota, escritor, jornalista, cronista, poeta, ensaísta, tradutor e editor de livros com vasta colaboração dispersa por jornais e revistas. “Parede de Adobo”, de João Carlos Costa da Cruz, e “Visões do Azul”, de Emília Ferreira, na altura com morada na Caparica, receberam menções honrosas.

Carlos de Oliveira

Carlos de Oliveira nasceu em Belém do Pará, no Brasil, a 10 de Agosto de 1921. Regressado a Portugal, juntamente com os pais, aos dois anos de idade, Carlos de Oliveira passou grande parte da sua infância no Concelho de Cantanhede, inicialmente na Camarneira e depois em Febres, onde seu pai exercia medicina. A partir de 1933, passou a viver em Coimbra, onde permaneceu durante quinze anos, a fim de concluir os estudos liceais e universitários. Em 1941, ingressou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde teve participação muito ativa nos movimentos intelectuais e políticos com outros jovens, entre os quais Joaquim Namorado, João Cochofel e Fernando Namora.

Depois de ter concluído a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, instalou-se definitivamente em Lisboa, sem contudo deixar de visitar regularmente Coimbra e a Região da Gândara.

Os terrenos pantanosos e arenosos da Região da Gândara onde viveu a sua infância são o cenário preferencial da sua obra narrativa e referência constante também na sua poesia.

É autor de diversas obras em diferentes géneros literários. Uma Abelha na Chuva (1953), Casa na Duna (1943), Finisterra (1978), Pequenos Burgueses (1948) e Alcateia (1944) são os seus romances mais conhecidos, enquanto na poesia são referência Mãe Pobre (1945), Descida aos Infernos (1949), Terra de Harmonia (1950), Cantata (1960), Sobre o Lado Esquerdo (1968), Micropaisagem (1968) e Entre Duas Memórias (1971). Publicou ainda contos e crónicas, com destaque para A Pequena Esperança (1946) e O Aprendiz de Feiticeiro (1971). Faleceu em Lisboa a 1 de Julho de 1981.