Cantanhede quer acentuar a promoção do seu terroir de exceção e dos seus vinhos

“Cantanhede: terroir de exceção, vinhos de excelência" foi o mote do debate organizado pelo Município de Cantanhede para assinalar o Dia Mundial do Enoturismo, com o objetivo de traçar perspetivas sobre o potencial do território para a produção de vinhos com carácter distintivo e apontar caminhos possíveis para reforçar a cadeia de valor do setor.

O evento decorreu no Biocant Park, no dia 7 de novembro, com a participação de Pedro Machado, presidente da Turismo Centro de Portugal, e de Pedro Soares, presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada, bem como de representantes das principais empresas vitivinícolas sediadas ou com vinhas no concelho de Cantanhede, designadamente Vitor Damião, da Adega Cooperativa de Cantanhede, João Póvoa, da Kompassus, Dirk Niepoort, da Quinta de Baixo, e Célia Alves, da Quinta do Poço do Lobo, esta última também na qualidade de presidente da Confraria dos Enófilos da Bairrada. 

Perante uma assistência que incluía várias entidades, entre as quais o vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, Jorge Brito, a presidente da Câmara Municipal, Helena Teodósio, começou por dizer que “vale a pena discutir orientações de fundo para os desafios que o setor vitivinícola enfrenta atualmente, perspetivando soluções para acrescentar valor a essa fileira. Temos um território com um grande potencial que pode e deve ser rentabilizado captando o interesse de turistas, com todos os benefícios daí decorrentes para a economia local, e não apenas a diretamente relacionada com a viticultura”, afirmou a autarca, acrescentando que “a forte tradição do concelho neste domínio não pode deixar de ter um lugar central na oferta turística integrada da região”.

Segundo Pedro Machado, “a projeção do nosso país está alavancada numa oportunidade e, do ponto de vista do posicionamento internacional, o enoturismo entrou definitivamente na matriz da promoção nacional e regional. Mas só muito recentemente se entendeu que se trata de um produto turístico que deveria ser estruturado”, adiantou o presidente da Turismo Centro Portugal, referindo que “o país, para alargar o leque da oferta turística, para continuar a aumentar a sua atratividade, precisa de receber gente todo o ano e não só no verão, e precisa também de ocupar territórios que até agora não tinham sido ocupados. Há por isso uma oportunidade, essencialmente pela diversificação dos produtos turísticos, do combate à sazonalidade, e nesta perspetiva o enoturismo acrescenta valor”

Por seu lado, Pedro Soares, presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada, Pedro Soares, congratulou-se com “a realização do debate em torno dos vinhos de Cantanhede e do enoturismo”, alertando para a necessidade de “a promoção internacional das marcas de Portugal se alicerçar na sua força conjunta, neste caso a Bairrada, toda a Bairrada, cuja marca foi de resto lançada aqui em Cantanhede”.

Para o presidente da Adega Cooperativa de Cantanhede, Vitor Damião, “é preciso apostar nas castas tradicionais da Bairrada, a Baga no caso nos tintos, e o Arinto nos brancos. Há aqueles que acham que não, mas a empresa tem feito esse caminho com um êxito interessante, para não dizer muito bom”, referiu, sublinhando que “o Baga topo de gama é exatamente o Foral de Cantanhede, que é uma marca lançada no âmbito de uma parceria com a Câmara Municipal”.

Em relação ao enoturismo, aquele responsável considera que, “em Portugal, ainda se está na infância” e sugeriu que “todas as entidades, a Turismo do Centro, a CCDRC, as Câmaras Municipais, a Associação Nacional de Produtores de Vinhos deviam organizar conjuntamente uma viagem para perceber como é que lá fora se trabalha no enoturismo. Há exemplos impressionantes”.  

Dirk Niepoort iniciou a sua intervenção interrogando-se sobre se “bairrismo nasceu da palavra Bairrada, se é uma pura coincidência”, para dizer que “o bairradino fecha-se muito. Não por acaso que é uma região mal-amada por muita gente neste país, algo que está a mudar, até porque alguns dos melhores vinhos de Portugal foram feitos na Bairrada”. O dono da Quinta de Baixo aludiu ainda à circunstância de que “quase todos os grandes negociantes de vinhos, ou nasceram aqui, ou têm grandes armazéns nesta zona. Não há dúvida que existe história, a Região Demarcada da Bairrada é uma coisa mais recente, mas a qualidade dos vinhos já existe há muito tempo”, frisou.

João Alberto Póvoa, da Kompassus, invocou a sua experiência no setor para falar “do minifúndio como um dos entraves ao enoturismo, enquanto não houver um ordenamento da paisagem será muito difícil estruturar essa atividade. Se queremos passar para uma coisa mais à frente temos que atrair gente do exterior, isso é importantíssimo, só assim é que se consegue. Conhecia duas ou três pessoas que estavam interessadas em vir para cá e desistiram, porque viram que não conseguem depois iniciar atividade. Esse é o entrave principal”, concluiu.

Em representação da Quinta do Poço do Lobo falou Célia Alves, que destacou “a grande afluência de visitantes às Caves de São João”, a empresa que este ano completa 100 anos e que é dona da propriedade.  “Efetivamente, as pessoas procuram muito a história da região, a história das caves, temos muito património e daí sentirmos também a necessidade de propormos programas de enoturismo, o que nos levou a contratar funcionários para essa função”, disse a também presidente da Confraria dos Enófilos da Bairrada, enaltecendo “o papel da Rota da Bairrada e o seu apoio à preparação de visitas e de provas, um trabalho realmente necessário para se atrair mais visitantes”. Segundo Célia Alves, “a empresa está a criar novos programas, para que haja visitas em segurança à Quinta do Poço do Lobo, pois as pessoas gostam muito do contacto com a vinha, gostam de ver o ciclo vegetativo das videiras. Ainda não temos condições para promover piqueniques, mas é um projeto que queremos fazer no futuro”.