O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não esteve presente na cerimónia comemorativa do Feriado Municipal, mas enviou um testemunho em vídeo com particular enfoque nos 100 anos do nascimento de Carlos de Oliveira e a importância da sua obra literária.“Se não foi em vida o escritor mais celebrado da geração neorrealista, Carlos de Oliveira tem sido certamente aquele que ganhou mais prestígio crítico”, disse o chefe de Estado, frisando que “foi considerado o maior estilista da geração a que pertenceu, o seu escritor mais inventivo e mais exigente”.Marcelo Rebelo de Sousa elogiou o “trabalho do escritor, o romancista de enraizamento local, praticando um idioma depurado e evocativo, autor de romances tensos e intensos” e destacou o romance “Finisterra, um dos melhores a nível europeu”.“Com Carlos Oliveira, a Gândara ganhou expressão a nível nacional e internacional”, disse o Presidente da República, que noutro passo da sua mensagem agradeceu a Medalha de Ouro que lhe foi atribuída pelo Município de Cantanhede.Na sessão solene comemorativa do Feriado Municipal, o centenário do escritor Carlos de Oliveira foi um dos pontos altos, tendo sido também assinalado com a entrega do Prémio Literário instituído pelo Município de Cantanhede para homenagear o autor de Fisnisterra e Uma Abelha na Chuva. Foi a quarta edição do concurso, cujo vencedor foi o romance “ApagaDor”, da autoria de Jorge Sousa Lima, que esteve presente na sessão solene. Natural da cidade de Paris, filho de emigrantes, o autor é professor de Português em Ponte de Lima. A evocação de Carlos Oliveira esteve a cargo de Osvaldo Silvestre, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que apresentou uma breve preleção sobre a vida e obra de Carlos de Oliveira. “Já imaginaram a Gândara sem as descrições de Carlos Oliveira e sem as histórias e as personagens com que ele povoou este território?”, questionou o historiador literário, não encontrando ainda uma resposta acabada para esta pergunta, afirmando que “não duvido que autoconsciência territorial dos Gandarezes, a ideia de que a palavra Gândara corresponde a uma coisa com massa específica subiu exponencialmente com obra de Carlos de Oliveira”. Para Osvaldo Silvestre “a literatura é uma forma enganosa de descrever o mundo, um truque de feira e tenda de circo, um jogo pouco inocente com as palavras. As histórias o nosso o vosso aprendiz de Feiticeiro conta sobre a Gândara, são em rigor propostas imaginativas sobre o mundo, descrições que quando particularmente persuasivas ganha uma espécie de força de lei estilo e nossa convicção que o mundo é tal e qual como nos livros e estes são tal como mundo lançando de novo a relação especular entre o livro e mundo.”